EDUCAÇÃO E CONVIVÊNCIA COMO O MUNDO NOS AFETA
EDUCAÇÃO E CONVIVÊNCIA
COMO O MUNDO NOS AFETA
... fazemos coisas com as palavras e, também, as palavras fazem coisas
conosco... sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece."
Larossa, fragmento de uma conferência -2001
Quando
o uso da palavra vale tanto quanto significa o mais claro silêncio? Em termos
de convivência, interação e comunicabilidade, que garantias temos que o que se
disse foi o que se entendeu dito?
Pelos
meandros da formação social que começa, na minha leitura, na convivência que o
ser humano tem para consigo mesmo (e depois com "quem" o
"quê" estiver em seu mundo), imbricam-se questões que instigam aos
que pensam, quando pensam, a pensar que ainda fazem-no pouco. Quanto mais nos
questionamos acerca de "quem somos", talvez, talvez, talvez!, mais
precisemos das palavras para apresentarmo-nos ao mundo e dele dizer o que sentimos,
fazemos, queremos. E por "palavras" que se entenda o que está além do
léxico de uma língua.
Outro
dia, durante uma palestra em uma escola, percebi o olhar vazio e o sorriso
torto de uma menina - com pouco mais de 16 anos de idade. Impenetrável, fazia
parte do círculo de estudantes que estavam ali. A dureza do olhar e o "azedume"
daquele meio sorriso falavam alto. A juventude e a beleza que possuía não eram
suficientes para "desanuviar" o semblante carregado. Destacava-se
negativamente entre os colegas. Enquanto os demais trocavam impressões,
palavras e abraços, ela permanecia iracunda.
Ouvi o
que a professora lhe disse: "... aproveite esse momento. Sei que você está
gostando."
E com
tristeza, ouvi o retorno: "Não gosto de conversas! Conversa é perda de
tempo!"
Sabiamente, a
professora, disse-me mais tarde: "... ela precisa sensibilizar-se! Se não
aprender a conviver, a interagir, em algum momento, o próprio sistema irá
colocá-la para fora."
Sábia e
competente professora! Sim! Independente do acúmulo de informações, diplomas e
certificados, creio que APRENDER é estar disponível para CONVIVER. O sucesso
advém da capacidade de nos ABRIRMOS PARA O MUNDO. O que está conosco nos afeta.
Independente do grau e da qualidade. Afeta, simplesmente! É escolha de cada um
o "quê fazer", o "como fazer" com as experiências que
chegam, mesmo que sejam fugazes e doloridas. Daí a diferença entre os que
sentam e choram as perdas da caminhada e os que continuam chorando, mas caminham...
caminham... até as lágrimas tornarem-se grandes diamantes de entendimento.
Por
que, uma menina tão jovem, espalha tanta dureza e ironia azeda?
Responsabilidade da escola? Responsabilidade da família? De todos e de
ninguém? Ela "é" assim? Ela "está" assim? É uma escolha? Consequência
de seu mundo?
Todas
as alternativas são uma possibilidade... talvez! Há mais sobre "quem"
somos do quanto deixamos entrever. Essa é uma regra que seguem os bons
psicanalistas e eles bem sabem as razões de o fazerem. Mas penso que, entre
tantas possibilidades, a menina escolheu "aquela": estar fechada para
o mundo e mostrar-se distante de todos. Sim, pode ser um grande grito de
socorro! Mas se o interlocutor dessa "cena" não conhecer os sinais
enviados, o "apelo" das manifestações não verbais da menina serão
"lidos", "sentidos", "compreendidos",
"traduzidos", como impedimento para outras experiências.
Podemos enviar
todo o tipo de "sinais de fumaça", mas há montanhas que não permitem
a expansão da mensagem. Daí estarmos preparados para a convivência interior,
antes dos grandes discursos a céu aberto. Claro que idealizo as possibilidades
aqui, devido ao tempo e ao espaço do texto, mas gostaria de pensar que SEMPRE,
SEMPRE é POSSÍVEL entendermos para além da primeira leitura. Gosto de manter em
mim a esperança no que vem. Faço a escolha pelo silêncio muitas e muitas vezes,
mas não me furto à dor e à alegria, pois elas são a própria natureza da vida.
Crescer é perder um pouco da crença de que o mundo se faz ao redor do próprio
umbigo. Amadurecer é olhar para o círculo e ver que somos UM, e que o antigo
modelo de ser "o" melhor, AGRESSIVAMENTE "o" melhor,
"o" certo, "o que sabe", há muito deixou espaço para o
"fazer juntos", "aprender sempre", e, HUMILDEMENTE, significar na convivência justa
e honesta a experiência do outro. Concordo que é ideal! Mas nem por isso
impossível! Cabe à escola, à família, ou a qualquer outro círculo humano
cultivar as relações e seus modos de formação.
Mantenho fé e
esperança no ser humano. Enquanto pudermos SENTIR, estaremos aprendendo e
apreendendo o "mundo" que, penso, não é tão claro e delimitado quanto
as linhas do planeta em que vivemos.
Ivane Laurete Perotti
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