CORRIDA PARA O SUCESSO
CORRIDA PARA O SUCESSO
Experiências e resultados
"Queremos ter certezas e não dúvidas,
resultados e não experiências, mas
nem
mesmo percebemos que as certezas
só podem surgir através das dúvidas e
os resultados somente através das
experiências."
Carl Gustav Jung
Dias
de sol aberto são um convite para olhar a vida com mais fôlego. A claridade mostra as cores desbotadas e
sinaliza o tempo que se esgota. Sol e sombra combinam o equilíbrio aprazível ao
gosto dos extrovertidos. A introspecção recua no espaço para o qual as nuvens
não pesam sobre os ombros humanos. Imberbes ou firmes, atravessamos as horas
com uma expectativa crescente, como se logo ali, na próxima via, aguardasse o
destino almejado em estado de plena potência.
Somos
educados dentro de parâmetros que cobram resultados imediatos de sucesso
macerados com pitadas regulares de segurança. E o sucesso parece emparelhar-se aos
dias de sol, pelo menos no tocante ao estado de espírito que adere a um e
outro. O brilho que acompanha os raios de sol lascivamente colore os fatos nos
quais a vitória instala-se em trono vistoso. São falácias, metáforas, figuras e
alegorias construídas pela necessidade crescente de encurtarmos o tempo gasto
no movimento das descobertas pessoais e coletivas.
Experimentar, na contemporaneidade, é exercer
um poder dirigido sobre o foco principal, sem alinhavar as derrocadas
pertinentes ao processo vivenciado. O sucesso é um fim posto do qual se
desprende a ideia de processo ou experiência. Estabelecemos metas, objetivos e
prazos. Não que se negue a importância de qualquer um deles, muito pelo
contrário. Motivamo-nos a gastar menos aprendendo mais rápido para chegar
antecipadamente ao lugar desejado. As linhas da experiência encontram pontos de
interrupção maquinados pela exigência que surge como uma característica inata.
Não é inata. Impomo-nos correr atrás de resultados, ao invés de mergulhar na
experiência. Malfadada a comparação, é como se, diante de um farto sorvete de
morango e creme, engolíssemos a massa gelada de uma só investida. Perde-se o
sabor, o toque gelado, o leve derretimento que lambuza as mãos e os lábios, a
textura macia e consistente. O sorvete, resultado de uma experiência realizada
entre os nobres chineses há aproximadamente 4.000 anos atrás, ao
"guardarem" no meio da neve um doce de leite e arroz, mantém-se em
estado de experimentos constantes. A experiência evoluiu, evolui ainda,
amplia-se, obedecendo à lei processual de interesses, gostos e necessidades. Normal
e comum. Não mais! O que caracteriza a esfera do comum instalou o mal dos
males: a ansiedade.
Desejar
o sucesso é saudável. Trabalhar em função dele é um modo de operacionalizá-lo.
Mas a vida não é uma linha reta com dois pontos assinalados: início e fim.
Antes, muito antes, viver é uma experiência que conjuga a soma de todo o tipo
de resultados: erros e acertos guardam o mesmo peso diante do amadurecimento
emocional. O que fazemos com um e com outro estabelece a diferença de nossa
experiência processual. Ainda, os conceitos difusos e particularmente marcados
pela leitura de mundo que cada um faz acerca do que é "sucesso", do
que "experiência" determinam a postura assumida durante o movimento.
Muitos chegam à meta estabelecida e descobrem que o sucesso não está onde as
setas douradas tão arduamente indicavam. Alcançar o sucesso é viver
integralmente o agora, independente do
tempo que dura a caminhada. O resultado? Ora, Millôr Fernandes disse bem:
"Viver é desenhar sem borracha."
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