PARTE VI
PARTE VI - DIÁRIO DE UMA MULHER QUE NÃO QUER TRAIR
MAIS
UM DIA...
Resolvi C-A-P-R-I-C-H-A-R!!!
Levantei antes de meu marido e o esperei com salada de
frutas, vitamina e... “euzinha” maravilhosamente
vestida! Fiz cabelo, maquiagem e vesti minha
“saia suspende arquibancadas”. Sei que estou bonita, cheirosa e... bem!
Decidi entrar no universo de meu marido.
Já estou no trabalho.
Meu marido engoliu a salada de frutas enquanto dizia ser um grande dia,
pois finalmente entregaria o relatório aos seus superiores e... listou mais uma
vez as razões que lhe deixavam puto! Muito puto! Pois aqueles incompetentes não
eram capazes de fazer nada. Absolutamente nada que valesse a sua consideração.
Bom... ele não olhou para mim e nem sentiu o perfume que eu só usava em
ocasiões especiais! Ou se olhou e sentiu não comentou. Mas tudo bem, estou no
trabalho, todos elogiaram a minha produção e meu colega disse que meu perfume era um bálsamo para mais um dia
de agendas apertadas.
Não me vesti para os meus colegas, nem era o meu objetivo ser vista por
eles, mas , dentro da confusão que estou sentindo, os comentários me deixaram
com a sensação de que existo! Ponto! Vou
mandar um e-mail para o meu amor e convidá-lo para almoçarmos juntos...minha
agenda está para lá de atrasada, mas dou um jeito!
VOU ALMOÇAR COM O MEU
AMORRRRRRRRRRRRRRR!!!!!!
Retoquei
a maquiagem e me senti como nos
primeiros encontros!
ALMOCEI
SOZINHA!
Voltei para
casa mais tarde. Bem mais tarde. Trabalhei nos agendamentos atrasados e
encontrei meu marido deitado em nossa cama assistindo alguma coisa na
televisão. Não! Não! Não assistia, só olhava para a televisão desligada.
O acote desbotando me deu boa noite e meu marido disse que não via a hora de eu
chegar para me contar sobre o que
acontecera com o seu relatório e...
estava puto! Muito puto! Mas muito puto mesmo! Não aguentava mais o que estava
acontecendo...
EU
TAMBÉM ESTAVA PUTA! MUITO PUTA!
NÃO SOU PUTA, ESTOU P-U-T-A!!! OU VOU VIRAR UMA... PUTA MERDA! VOCÊ NÃO CONSEGUE
FALAR DE OUTRA COISA?
Agora
eu sei que disse tudo! E não chorei! Falei que eu também queria contar de mim,
do meu dia, etc.,etc., etc...
Falei que queria CONVERSAR e meu
marido respondeu: "não entendo! Não
entendo! Não lhe falta nada! Não entendo você."
Falei do presente que estava
na sala e ele me disse que “... que não
precisava de presente, que só queria a mim e...”.
Não estou
melhor. Pensei que ao falar eu ficaria mais leve. Mas descobri que eu preferia
não ter de falar , percebi que eu imaginava uma relação quase perfeita
em que nós dois conversássemos.
Ele diz com
todas as letras que nós dois conversamos.
Que estou
exagerando e que sua vida está muito difícil por causa do chefe e...
Eu odeio
chefes! Apesar de todos os vários chefes imediatos no meu trabalho não merecerem
ser odiados. Eu odeio chefes!
Estou acreditando
que não sei me expressar e que tenho “problemas com as palavras”, palavras de
meu marido.
... sou
exagerada! Não tenho compreensão sobre o que se passa com ele...
... sou egoísta!
... quero ser o
centro das atenções!
... sou
dominadora!
Ele me disse mais do que eu queria
ouvir e para além do que eu pensava ouvir dele.
Não quero ser
egoísta, imatura e essas outras qualificações todas que em meu manual de bom
casamento PRECISAM FICAR FORA DA RELAÇÃO!!!!
Ai!!! Estou pior!
Cheguei em
casa com o peso da culpa gerando mais adiposidade em meu corpo físico , mais
vontade de mergulhar em um buraco profundo, mais vontade de colocar a cabeça
entre as pernas e reconhecer minha máxima incompetência. Eu era um fracasso.
E se tudo o que ele me disse for verdade? Se
ele estiver vendo quem eu sou? Se ele estiver correto?
Preciso amadurecer, saber esperar, ter
paciência, me descentralizar... preciso crescer! Preciso pensar em nós dois
antes de pensar em mim mesma.
Vozes antigas misturavam-se em minha cabeça gorda! Gorda de todo o tipo
de sentimentos contraditórios. Eram vozes de outras mulheres, vozes de mãe, de
avó, de amigas, vozes de homens que tinham mostrado desejo em... vozes
interessadas, vozes que ouvira sem desejar ouvir, vozes
Que eu
temera ouvir e ouvi assim mesmo! Eram tantas vozes ecoando sua secular
sapiência que eu sentia dificuldade em
localizar a minha voz.
Ouvi de meu marido que ele não me entendia. Também ouvi dele que eu
estava reclamando de "barriga cheia".
Também ouvi que eu não tinha o direito de dizer como ele era, e para
tanto, buscou no dicionário cada palavra que eu proferira.
Explicou-me com todas as vogais e consoantes que ele, meu marido, era um
homem agressivo e que essa era uma qualidade muito importante no mundo atual.
Agressividade era a sua grande forma de ser e ele se orgulhava do ímpeto com
que seguia a vida. Nada o derrubaria. Nada!
Ele chegou muito tarde. Comemorara nossa
primeira briga longe de casa! Saíra batendo a porta .
Não
desejei perguntar onde e com quem fora dizer as coisas que deveriam ser ditas
para mim e sobre “euzinha”.
Eu
queria acreditar que ele também sabia proteger nós dois e nossa história. Essa
coisa de parente e amigo ouvir sobre brigas dentro da casa de outro não pareciam uma boa ideia. Não que eu
desejasse fugir da realidade, mas cada qual tem suas próprias coisas para
resolve r e deve fazê-las no lugar onde elas surgem. Aqui estou eu mais UMA VEZ
FALANDO SOZINHA...
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