PARTE VII
PARTE VII - DIÁRIO DE UMA MULHER QUE NÃO QUER TRAIR
OUTRO DIA...
Meu corpo dói como se eu tivesse levado pancadas. Minha cabeça
está sinalizando que terei problemas e por razões que não entendi, o meu xixi
parou. Não estou indo ao banheiro para descarregar a urina, estou entrando no
banheiro para deixar as lágrimas explodirem. Mais água saindo pela parte de
cima do que pela de baixo. Acho que alguma coisa não está bem.
Ele saiu para o trabalho antes
de mim, sem “bom dia”, sem “até
depois”, sem nada! Fechado e emburrado. Não muito diferente do que se mostra
todos os dias. Mas... o seu rosto crispado mostrava uma raiva que me parecia
excessiva e injusta. Não poderíamos conversar como um homem e uma mulher que decidiram maduramente
construir uma história juntos? Minha garganta apertara-se para dentro. Eu estava
chorosa e absolutamente arrasada! Devo ser um monstro, não mereço o meu marido.
Para piorar, ele disse que certamente a "minha vida" não
estava dando certo e que isso, isso não era culpa dele.
Estou com a bunda no trabalho, só a bunda em cima da cadeira. Meus
pensamentos sobre eu mesma enegrecem na medida em que a manhã avança.
Enegrecem, agitam-se, agigantam-se. Estou sem noção de estar certa ou errada.
Ou de estar “meio” qualquer uma dessas duas posições. Não queria ter brigado
com ele. Queria conversar com ele.
Será que ele vai me convidar para almoçar?
Será que vai mandar uma “mensagenzinha” de “estou aqui”....”vamos conversar,
meu amor”...
Na hora do intervalo apareceu sobre a minha mesa um simples bilhete:
“Conversar ajuda a aliviar a alma. Se
precisar de um amigo que só escute... estou aqui!”
Foi a gota de lágrima que faltava para empurrar as outras para fora.
Chorei limpando o nariz e fazendo aquele estrondo típico de desentupidor de
cano grosso.
Que
vergonha!
Estava
tão visível assim o meu fracasso? Era tão clara a minha posição de “penélope”
infantilizada?
Guardei o bilhete, mas não fiquei mais calma por saber da boa vontade de
meu colega em receber os dejetos escuros de minha alma aflita. No fundo eu já
assinara a minha culpa e estava decretando o fim de minha autoestima. E ainda,
não gostava de dividir meus problemas. Deveria ser mais um de meus defeitos.
Mas isso de sair contando o que vai na
vida, não era bem meu estilo. Preferia
resolver dentro de casa o que dentro dela acontecia.
Nada! Meu marido
estava em absoluto silêncio, punindo meu egoísmo.
Eu deveria merecer.
Mas o que fazer com o conceito de “conversa”? Essa ponta de entendimento me
deixava um tanto quanto magoada, pois eu acreditava que “os dois” deveriam conversar SEMPRE, até mesmo em uma
situação como essa. OS DOIS! OS DOIS!OS DOIS! Estava ficando maluca!
Fiz mal o meu
trabalho. Cometi erros imperdoáveis , mas provavelmente a minha “cara” de
defunta enterrada em si mesma deixou o meu chefe constrangido e passei sem
qualquer reprimenda. Pois é, meu chefe era muito, muito, muito exigente e eu
estava sempre na primeira linha de tiro de suas reclamações. Eu não conseguira
contar esse detalhe para o meu marido. Ou contara? Já não fazia diferença.
Chefes são todos iguais e eu estava errada duas vezes: uma por errar com o meu
marido e outra em fazer o trabalho errado para o meu chefe que esperava o
mínimo de mim.
Como era possível a vida tornar-se tão complicada sem que um fato
monstruoso ocorresse? Sim, eu tinha clareza sobre não estar vivendo uma
tragédia. Eu apenas ME SENTIA EM UMA TRAGÉDIA! Monstruosa era eu,
“euzinha”, imatura e infantil. Será que estaria vivendo aquele momento que
dizem ser comum no início do casamento? E nós dois não deveríamos conversar
sobre isso? Isso!Isso!Isso!
Simplesmente não sabia o que fazer.
O resto do dia passou por mim como que se esgueirando de minha cara
inchada e do desejo de não estar onde estava. Eu parecia um autômato na capacidade
de fazer com que as mãos fizessem o que deveriam, ou o mínimo do que deveriam,
enquanto a alma que ficava do lado de fora olhava para tudo com um ar de
absoluto desprendimento.
E onde eu queria estar? Em casa? Que
casa? Aquela em que eu me sentia sozinha enquanto meu marido me acompanhava de
tão perto?
Eu deveria estar
doente. Uma grande amiga fora vítima de uma depressão grave. Eu poderia estar
gravemente deprimida?
Ao voltar para a minha mesa depois do intervalo da tarde, outro singelo
bilhete me esperava: “Nenhum problema
pode ser maior do que nossa capacidade para resolvê-lo.”
Uau!!! Amei o bilhete! Guardei junto com o outro e lancei um quase
sorriso para o lado onde trabalhava o
meu amigo. Ele não estava me olhando, era discreto demais até no ato de ajudar
os seus colegas.
Uma ideia saltara de dentro de mim. Pronta e brilhante! Saí antes do
horário sem pedir permissão. Meu chefe seria um problema para depois.
Estou na floricultura comprando as flores mais lindas que já vi . Vou
passar na casa de vinhos e depois.... depois em paz, e feliz, eu escrevo o
resultado.
Preparei uma verdadeira
cerimônia de pedido de reconciliação.
Espalhei flores pela casa
inteira, deixei os cálices e o vinho à mão. Vesti-me com a roupa que ele dizia mais
gostar.
Estou com as mãos geladas
pela ansiedade e ainda pela culpa em ser tão imatura.
Vou me esforçar e nosso
casamento só poderá ser o melhor de
todos. Pareço infantil outra vez, mas é o nervoso por esperá-lo e ... ele está
demorando muito.
Era
madrugada quando meu marido chegou, mas, eu, sabendo que preciso crescer, fiz
de conta que não percebi e coloquei em prática todo o cerimonial preparado.
Conversamos
e acertamos tudo! Tudinho! A partir de agora, nós dois vamos contar o
nosso dia e só a parte que interessar aos dois. Vamos conversar mais,
sair mais e dizer mais o quanto nos amamos.
ESTOU FELIZ OUTRA
VEZ!!!!!!
HHHHHHHHHH!!!!!!!!
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