PARTE II
PARTE II - DIÁRIO DE UMA MULHER QUE NÃO QUER TRAIR
SEGUNDO DIA DE INCÔMODO
É
de manhã e acabamos de tomar o café com misturas. O assunto da noite anterior
está à mesa. Estou com uma sensação estranha: meu estômago embrulhou. Estou
sentindo um aperto dolorido na garganta. Acho que vou fazer outro xixi e
demorar um pouco no banheiro.
Demorei.
Vamos sair juntos para o trabalho.
Voltei do almoço com ele.
Amo o meu marido, mas estou
com medo de estar gostando tanto de ir ao banheiro.
Vou trabalhar...
Estranho! Muito estranho o meu
colega vir me perguntar como estou, o que tenho feito, por onde ando, e... e
ainda esperar pela minha resposta.
Quase não soube onde estavam as
respostas.
Volto ao trabalho sem fazer
xixi.
Estou em casa.
Combinamos
fazer uma janta especial para uma noite especial.
Camarão ao
alho e olho, vinho, morangos (eu comprei sem ele saber. Quero fazer uma surpresa...).
Levantei da cama enquanto ele dorme para escrever e... pensar! Essa é uma hora em que eu
gostaria de saber fumar. Fumar parece tão catártico! Eu acenderia um charuto
bem feito, com cheiro de boa marca, daria longas tragadas, soltaria a fumaça em
curvas e pensaria em nada.
O sexo foi ótimo.
A janta foi perfeita.
Mas eu ainda
não consegui impedir os colegas de meu
marido de se fazerem presentes naqueles espaços que pareciam tão impróprios
para a noite. Falar das mazelas do trabalho entre um beijo e outro vai lá...
mas parar de me beijar para dizer mais alguma coisa contra aqueles colegas
tão... tão...
Sinto um desejo
enorme de afogá-los no próprio trabalho... de fazê-los parar de entrar no meio
de nós dois... de.... estou “assassínica".
Estou
incomodada. A última frase antes de meu marido adormecer foi: "... na
medida do possível! Pode? Na medida do possível dele eu ainda estou esperando
pelo relatório. Na medida do possível..."
Todos eles, mais uma vez,
entraram casa adentro. Nem mesmo depois do sexo fantástico, dos carinhos que
trocamos, dos beijos ardentes, o
trabalho de meu marido teve a delicadeza de se afastar.
E eu só queria ficar com
aquele homem que significava tanto em minha vida. Tudo bem! O trabalho faz
parte da vida dele, mas... Seria egoísmo de minha parte? Eu... estaria
desenvolvendo um tipo de sentimento possessivo sobre ele? Seria ciúme
disfarçado de ... de... de quê?
Começo a pensar que meu
marido tem razão!
Vou beber o vinho que ficou
na garrafa. Vou entrar na garrafa.
Preciso dormir!
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