CONTOS AUMENTADOS II
CONTOS AUMENTADOS II
HISTÓRIAS DE TROPEIROS
DOBRANDO CAMINHOS
Dizem que a metade do século XVIII
transcorria cheia de esperança lá pelo Brasil Colônia. A Coroa Portuguesa
instalara na Vila de Taubaté, a Casa de Fundição de Taubaté, que alguns
preferiam chamar de Oficina Real dos Quintos.
_ Que Quintos, meu filho? Que
Quintos?
_ Os QUINTOS não me interessam, compadre. Só
me interessa o "oro". Esse sim! O "oro" que vem prá cá!
_ E você não sabe que nadica de
nada desse "oro", "oro" fica por aqui?
_ E não?
_ E sim! Vai tudo, tudinho pro Porto
de Parati.
_ E é!?
_ E eu não tô dizendo!? Não tô?
_ Pois continue... continue...
_ Depois vai lá pro Rio de
Janeiro...
_ Cidade das boa, compadre!
Cidade...
_ Mas também não fica lá!
_ E não?
_ E é!
_ Ô!
_ Segui tudito para o Reino... tudito,
tudito de tudo! Não fica nadica de nada por lá!
_ E de onde vem esse
"oro" todo, compadre?
_ E tu não sabi, homi? Tu não
sabi?
_ Só notíças daqui e dali, mas
nada munto seguro, compadre!
_ Ah! Tu tá é com o bocó seco!
_ Quero enchê o bocó, compadre,
quero enchê! Me conta de um tudo que eu tô pronto prá ajuntá as mula.
Eram sempre as mulas a começar a
corrida pelo ouro em Minas Gerais. Sem elas a moeda de troca poderia pesar
demais nas costas dos tropeiros que negociavam entre uma cidade e outra. Mas o
período prometia pelas bandas das terras mineiras. As histórias sobre o ouro
fácil de encontrar corria de boca em boca e elevava o preço das cascudas que
carregavam no lombo o sonho dos negociantes mais valentes.
Acostumados a vender qualquer
tipo de produto, os primeiros tropeiros a abrir caminho dobraram maus pedaços.
Não era apenas a mata fechada ou os rios caudalosos que venciam a força de
muita persistência. Alguns caminhos eram absolutamente desconhecidos e para
chegarem precisavam reunir toda a força e o senso de direção. Sem contar com a
capacidade das mulas de se manterem sobre as quatro patas quando barrancos
desmoronavam, quando pedras entravam casco adentro e terrenos escorregadios se
mostravam para lá de perigosos. As mercadorias sobre seus lombos aumentavam de
peso à medida que as picadas eram abertas e o destino final ficava mais à
frente.
Caminhos conhecidos amenizavam o
desconforto da distância, mas não diminuíam as dificuldades naturais daqueles
lugares sem estradas adequadas ou outros meios de transporte.
Assim corriam os dias no Brasil Colônia
para aqueles que sentiam prazer em negociar, em levar mercadorias de todas as
espécies para os lugares de difícil acesso. Mercadorias e notícias eram
produtos de alto preço.
_ Droba ali, cumpadre!
_ Não dobra, não, meu filho!
Segue reto. Mais adiante fica o rio.
_ Tamo no caminho errado! Tô
dizeno, tô dizeno!
_ Esse é o caminho para a terra
do ouro. Tenho certeza!
_ Ô, cumpadre! Ter certeza aqui
é coisa prá gente grande!
_ E quer dizer o que com isso,
meu filho? Está me ofendendo?
_ Não! Não mesmo!
_ Olha que eu dobro o braço na
sua fuça!
_ Carma, cumpadre! Carma! Já
tamo chegano! Tamo chegano!
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