_ contos emburrados
baseados nas falas de uma grande e eterna
amiga, distinta
senhora da cor do pecado
Não gosto de chuva, de tempo franzino com
cara de emburrado, de nuvens grossas, de vento sem cor. Não gosto da cara fria
dos dias em que o sol se encolhe.
Gosto de deixar o sol arder em minha pele besuntada
de filtro e mais filtro e outros cremes prescritos pelo dermatologista que não
aprova minha conduta. Gosto de pensar que os raios amarelados entram por baixo
do que me cobre, penetram poros adentro e inundam a minha alma.
Quem
me ouve ou vê deve pensar que sou algum ser destituído de juízo, de informações
e pouco preocupada com a saúde.
Nada! Sou narcisista, saudável, tranquila
e continuo não gostando de dias apagados.
Devo ter uma cruza com lagartos, lagartixas,
crocodilos e outros animais que se refestelam ao calor do sol. Gosto de
caminhar pensando que a ardência dos raios em meu corpo funciona como pequenos
carinhos que recebo do alto. Que ninguém duvide da quantidade de miolos que
possuo embaixo do chapelão que cobre 99% de meu rosto e ainda projeta uma
sombra que se adianta a minha frente. Não sou estulta, apenas gosto do sol.
Tenho uma amiga que se dispõe a pensar até
no que não existe (ou não!). Ela pensa que pensa o que a gente pensa. Já
disseram que esse caminho é perigoso... mas! Ela costuma fazer alusões sobre o
que eu digo. Nas palavras dela, a minha quase obsessão pelo sol deve refletir alguma
necessidade de minha alma.
_
Sério?
Para
ela é uma possível leitura da leitura que estou fazendo sobre “euzinha”!Tem a
ver com essa conversa demasiadamente subjetiva de alguma coisa pode significar
outra.
_ Sério?
Séria
é a forma como ela me diz isso tudo e ainda não me dá qualquer resposta.
_ Minha
alma está obscurecida pelo... pelo... sei lá! Por qualquer coisa que eu não
percebo?
_ Não sei!
_E
desde quando “não sei" é resposta?
_ Desde
quando você mesma precisa encontrá-la
Ai!
Essas conversas sem pé nem cabeça me fazem lembrar que o dia hoje não está
muito claro.
Minha
amiga pensa!
Ela só
pensa.
Não gosta de sol.
E só
pensar sem gostar do sol é uma grande perda de tempo e criatividade e... para
mim, grande perda de momentos aquecidos e iluminados.
Minha amiga já fez correções altruísticas:
_
Eu gosto do, /do/, “do” sol, mas não gosto de, /de/, “de” sol... entendeu?
Para mim é tudo a mesma coisa: de, do, tanto
faz. Desde que tenha o sol depois.
Vi com o canto dos olhos o meneio repetido que a cabeça à frente fazia:
_ Você, talvez, precise enfrentar alguma escuridão interior e... está
fugindo.
_ Hã?!
_...
_ Como assim: escuridão?
_ Bem, talvez não seja exatamente “escuridão", mas alguma carência,
alguma resolução pendente...
_ Ei! Você está falando de mim ou de você?
_ ...
_ Falando sério! Você está precisando tomar sol sem chapéu, minha amiga.
_ Veja, você negou muito rápido o que eu tentei dizer...
_ Claro! Agora, além de pensar você também fala bobagens!!!
_
...
_ E ainda silencia para me fazer pensar que está com razão!
Ai!!! Peguei o jeito dela.
Preciso de
sol, do sol!
_ E não estou na escuridão, não! Minha amiga! Não gosto de deixar ácaros
pululando em mim, feito você que só procura a sombra.
_ Ácaros?
_ Ácaros de pele!
_ ... e isso existe?
_ Sei lá! Mas que você tem, tem!
_ ...
_ Colônia deles...
_ ...
_ ... muitos deles!
_ ...
_ Está cheiiiiiiiiiiiinha deles subindo pelo seu pescoço, pelos seus
braços e até descendo para a sua...
_ Cruzes! Para que já
estou toda arrepiada! Que nojo!
_ Não sei a razão! Ácaros são invisíveis a olho nu...
_ Sim, mas...
_ O sol
mata todos eles!!!
_ ...
_ Todinhos...
_ ...
_ ...
um por um!!!
CONTINUA... assim que ela concluir o que está tentando me dizer nesse exato momento!
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